Antibióticos na prevenção de infecções em implantes dentais

Uso de antibióticos na prevenção de infecções em implantes dentais são uma prática relativamente comum na Odontologia.

Afinal, a ausência de infecções pode fazer a diferença entre o sucesso e insucesso na colocação de implantes dentais.

Uma pesquisa recente buscou analisar a importância dos antibióticos como profiláticos dessas infecções.
Os resultados demonstraram que o uso de antibióticos pode não ser a melhor escolha em determinadas circunstâncias .

Organização Mundial da Saúde estima que a cada ano 700 mil mortes sejam decorrentes de infecções causadas por bactérias multirresistentes . Esse número pode alcançar incríveis 50 milhões nos próximos 30 anos . A comunidade científica mundial trabalha na busca de meios que possam evitar uma tragédia dessa proporção. Encontrar alternativas para vencer a resistência bacteriana aos antibióticos é o objetivo a ser alcançado.

Antibióticos são utilizados em odontologia para aumentar as chances de sucesso dos implantes dentais. O objetivo é prevenir eventuais infecções.
O presente trabalho busca mostrar que muitas vezes o uso de antibióticos pode não ser necessário na colocação de implantes dentais .

Os pesquisadores trabalharam em uma meta-análise onde revisaram 1022 estudos científicos e dez ensaios clínicos .
Foram estudados comparativamente o uso de antibióticos, a sua não utilização e o uso de placebo na colocação de implantes dentais.

Esta revisão sistemática trouxe uma descoberta importante . Pacientes saudáveis não precisam receber antibióticos para prevenir riscos de infecções pós-operatórias na colocação de implantes dentais .

Um outro estudo coordenado pela Ankylos Implant Clinical Research Group trouxe um dado interessante. Foram avaliados 1.500 implantes dentais realizados . O alvo desse estudo foi a taxa de sucesso ou insucesso pelo período de três a cinco anos após as cirurgias. Seja antes ou após as cirurgias, o uso de antibióticos não aumentou a taxa de sucesso dos implantes . Aqui no blog Dentalis já trouxemos um artigo anterior que abordou o uso de antibióticos em procedimentos odontológicos.

O protocolo Misch em implantes dentais

protocolo Misch International Implant Institute Prophylactic Protocol é constituído de cinco categorias. Ele determina em que momento e de que forma se deve empregar a profilaxia antimicrobiana cirúrgica em implantodontia . Estabelece qual o antibiótico mais apropriado para prevenir infecções. Também a dosagem e tempo de duração do tratamento. São considerados igualmente o grau de invasividade e dificuldade do procedimento.

O protocolo não prevê o uso de antibióticos sistêmicos . Recomenda o uso da clorexidina (bochechos) e uma dose única de amoxicilina para cirurgia de implantes e alguns tipos de enxertos. Em procedimentos mais extensos, adota o uso de antibióticos por um tempo maior.

De acordo com seus desenvolvedores, esse protocolo garante sucesso nos procedimentos. E apresenta poucas complicações. No entanto, faltam ainda dados adicionais que garantam a eficácia deste protocolo.

Algumas das recomendações são questionáveis. Como por exemplo a da recomendação da associação de amoxicilina com clavulanato. Os autores recomendam essa associação para qualquer intervenção relacionada aos seios maxilares. O argumento é de que bactérias produtoras de beta-lactamase geralmente estão ligadas a quadros de sinusite.

Associação desnecessária

Cirurgias de levantamento de seio maxilar não apresentam diferentes respostas quando utilizada amoxicilina ou sua associação com clavulanato de forma preventiva. A associação da amoxicilina com clavulanato potencializa em nove vezes os riscos de toxicidade hepática quando comparado ao uso exclusivo da amoxicilina.

Logo a seguir, segue o exemplo de um outro protocolo descrito no livro” Terapêutica Medicamentosa em Odontologia ” de Andrade ED.

Para procedimentos de descolamento tecidual mínimo

  • Exodontias de terceiros molares inclusos;
  • Cirurgias periodontais (em sua maioria);
  • Inserção de implantes unitários;
  • Cirurgias de segundo estágio (reabertura);
  • Inserção de implantes dentais imediatamente após a exodontia, sem perda de parede alveolar

Regime profilático

  • Sem uso de antibiótico por via sistêmica;
  • Fazer bochecho com 15 ml de solução aquosa de clorexidina 0,12% (após a cirurgia e a cada 12 h no pós-operatório, até a remoção da sutura;
  • Higienização bucal adequada;
  • Cuidados operatórios outros de rotina.

Para procedimentos de descolamento tecidual moderado a extenso

  • Inserção de implantes unitários após a exodontia, com perda da parede alveolar, na ausência de infecção local;
  • Inserção de múltiplos implantes, em desdentados parciais ou totais.

Regime profilático

Amoxicilina 1 g

  • Uma hora antes do procedimento;
  • Não é necessário prescrever doses de manutenção para o período pós-operatório;
  • Alérgicos às penicilinas: clindamicina 600 mg.

Para procedimentos de descolamento tecidual moderado a extenso diferenciados

  • Cirurgias periodontais. Complementadas por biomateriais de preenchimento ou regeneradores;
  • Inserção de implantes, complementada por biomateriais de preenchimento ou regeneradores, com envolvimento ou não dos seios maxilares.

Regime profilático

Amoxicilina 1 g

  • Uma hora antes do início do procedimento;
  • Manter 500 mg a cada oito horas, por três dias.

Alérgicos à penicilinas: clindamicina 600 mg

  • Uma hora antes do início do procedimento;
  • Manter 300 mg a cada oito horas, por três dias.

A amoxicilina

A amoxicilina é um antibiótico de amplo espectro indicado para o tratamento de infecções bacterianas causadas por cepas de bactérias sensíveis a sua ação. Fazem parte de seu espetro de ação tanto bactérias gram-positivas como gram-negativas.
A amoxicilina é suscetível à degradação por betalactamases. Assim seu espectro de atividade não abrange microrganismos que produzem essas enzimas, ou seja, não inclui Staphylococcus resistente nem todas as cepas deb Pseudomonas , Klebsiella e Enterobacter.

Observações

Bochechos com a solução aquosa de clorexidina 0,12% são indicados em todos os tipos de regime. Assim como a higienização bucal adequada e outros cuidados pós-operatórios de rotina.
A recomendação pelo uso da amoxicilina ou da clindamicina (dose única pré-operatória e doses de manutenção por três dias) ainda é empírico.

O próprio autor do livro traz um alerta importante sobre o protocolo por ele proposto. Ele diz que futuros ensaios clínicos bem controlados são necessários para comprovar (ou não) a necessidade da profilaxia cirúrgica por este período de tempo. Ou se até mesmo pode ser dispensável o uso dos antibióticos para esta finalidade.

Concluindo

Os dentistas também são chamados a dar sua contribuição para minimizar o grave problema da resistência bacteriana global . O uso de antibióticos deve ser feito em casos de real necessidade . E pelo menor tempo possível . Prescrever antibióticos, seja para profilaxia ou terapêutica, não deve jamais ser baseado apenas no medo ou insegurança.

“Aos profissionais de saúde prescritores, foi entregue um presente maravilhoso, que são os antibióticos. Mas, seu uso indiscriminado os estão destruindo. Nós não precisamos de mais comissões para discutir o assunto. Nós sabemos o que fazer: devemos usá-los menos”. Dr. Norman Simmons

Professor emérito de Biofísica, Medicina Nuclear e Medicina Oral da Universidade da Califórnia (Ucla). Foi o que disse durante a Conferência Europeia sobre Resistência Bacteriana (Copenhague, 1988). Foi aplaudido de pé pela plateia, durante vários minutos.

Fontes: SpringerLink , inpn

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