Crianças com TDAH têm mais cáries? Descubra os verdadeiros motivos

Você já parou para pensar que o cérebro e a boca estão muito mais conectados do que imaginamos? Um estudo recente da Universidade de Oviedo, na Espanha, revelou uma descoberta surpreendente: crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) apresentam uma saúde bucal significativamente pior quando comparadas às outras crianças. E não, a culpa não é apenas da escovação irregular!

Um problema mais comum do que imaginamos

Entre 3% e 7% das crianças no mundo todo foram diagnosticadas com TDAH. Mas os números reais podem ser bem maiores, já que muitos casos ainda passam despercebidos pelos sistemas de saúde. E agora, pesquisadores espanhóis apresentaram uma faceta pouco explorada desse transtorno: sua relação direta com problemas bucais.

Muito além da escovação inadequada

Você provavelmente já pensou: “Claro, se a criança tem dificuldade de concentração, vai esquecer de escovar os dentes!“. Mas os pesquisadores da Universidade de Oviedo descobriram que o problema é muito mais complexo e fascinante.

Segundo o estudo publicado na prestigiada revista Caries Research, crianças com TDAH apresentam um ambiente bucal completamente diferente das demais. Isso acontece por diversas razões: os medicamentos para tratar o transtorno podem alterar a produção de saliva; a própria composição dos dentes pode ser diferente; e até os microrganismos presentes na boca dessas crianças parecem se comportar de maneira distinta.

Além disso, existe um fator neurológico importante: essas crianças frequentemente têm dificuldades de processamento sensorial, o que torna o simples ato de escovar os dentes adequadamente um verdadeiro desafio.

Números que impressionam

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores Lucía Fernández Arce e Alberto Lana realizaram um estudo abrangente com 3.402 crianças espanholas entre 6 e 14 anos. Entre elas, 461 tinham diagnóstico ou sintomas compatíveis com TDAH.

Os resultados foram alarmantes: as crianças com o transtorno apresentaram o dobro do risco de desenvolver cáries dentárias, além de maior probabilidade de sangramento nas gengivas, necessidade de obturações e até extrações dentárias.

O mais surpreendente? Mesmo quando os pesquisadores consideraram fatores como consumo de doces, refrigerantes e frequência de escovação, a saúde bucal dessas crianças continuava significativamente pior. Como explicou Fernández Arce: “Isso não significa que crianças com TDAH possam consumir açúcar livremente ou escovar menos os dentes, mas que as razões para sua saúde bucal precária devem ser buscadas em outros fatores.”

Os verdadeiros vilões podem estar escondidos

O estudo aponta para características físicas e fisiológicas que podem explicar essa diferença:

• Crianças com TDAH têm maior probabilidade de ter dentes desalinhados;
• O bruxismo (ranger dos dentes) é mais comum nesse grupo;
• A produção de saliva pode ser limitada, comprometendo a proteção natural dos dentes;
• Possíveis diferenças na microbiota bucal dessas crianças.

Como você pode perceber, estamos falando de fatores biológicos que vão muito além do comportamento ou dos hábitos de higiene!

Um novo olhar para o consultório

Diante dessas descobertas, os pesquisadores espanhóis fazem recomendações valiosas para os dentistas que atendem essas crianças:

• Desenvolver programas de saúde bucal específicos para pacientes com TDAH
• Adaptar as consultas: tornando-as mais curtas, com menos estímulos sensoriais
• Incorporar técnicas especiais de gerenciamento comportamental
• E, muito importante: evitar culpabilizar as famílias!

Como ressalta a pesquisadora: “Criar uma criança com TDAH já é um enorme desafio, e sua saúde bucal mais precária pode, na verdade, ser devida a fatores que estão além do controle dos pais.”

E agora?

Esse estudo nos convida a olhar para a saúde bucal de uma forma mais integrativa e menos julgadora. Se você é pai, mãe ou responsável por uma criança com TDAH, converse com o dentista sobre essas descobertas. E se você é um profissional de odontologia, considere desenvolver estratégias personalizadas para esse grupo de pacientes que enfrentam desafios únicos.

Afinal, um sorriso saudável é direito de todas as crianças, independentemente de suas condições neurológicas.

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Fonte: Dental Caries in Children with Attention Deficit/Hyperactivity Disorder: A Meta-Analysis