Você sabia que a saúde mental de uma mãe pode influenciar diretamente a saúde bucal do seu filho? Pois é, meus caros leitores, uma descoberta recente está virando de cabeça para baixo tudo o que sabíamos sobre prevenção de cáries na primeira infância.
A descoberta que ninguém esperava
Uma nova revisão sistemática publicada no respeitado Journal of Clinical Pediatric Dentistry revelou algo surpreendente: mães que sofrem com depressão têm filhos com 40% mais chance de desenvolver cárie precoce na infância. Não é pouca coisa, não é mesmo?
“Quando pensamos em prevenção de cáries infantis, geralmente focamos na escovação, no consumo de açúcar e nas visitas ao dentista. Raramente consideramos a saúde mental dos pais como fator determinante“, explica a Dra. Marina Soares, odontopediatra e pesquisadora da USP, que não participou do estudo, mas compartilhou sua opinião sobre os resultados.
Os números não mentem
A pesquisa, conduzida por cientistas chineses liderados por Wentao Bian, do Hospital Popular da Província de Shaanxi, analisou sete estudos envolvendo mais de 22 mil participantes. Os resultados são contundentes: quando a mãe sofre de depressão, a chance de a criança desenvolver cárie precoce aumenta significativamente.
Para quem gosta de dados precisos, o estudo encontrou uma razão de chances de 1,40 (com intervalo de confiança de 95% entre 1,09 e 1,80). Em linguagem mais simples: há uma associação clara e estatisticamente significativa entre a depressão materna e as cáries infantis.
Mas por que isso acontece?
Vamos imaginar o cenário: uma mãe lutando contra a depressão enfrenta desafios diários que muitos de nós não conseguimos compreender. O simples ato de levantar da cama pode exigir um esforço sobre-humano. Nesse contexto, manter uma rotina rigorosa de cuidados bucais para os pequenos vira um verdadeiro desafio.
A depressão pode comprometer:
- A supervisão da escovação noturna, quando estamos todos cansados e queremos apenas ir para a cama;
- O preparo de refeições equilibradas, cedendo mais facilmente a alimentos ultraprocessados e ricos em açúcar;
- A percepção de sinais precoces de problemas dentários, como manchas brancas nos dentes;
- A regularidade das visitas preventivas ao dentista.
Como bem sabemos na odontologia, a prevenção é sempre o melhor remédio. E a prevenção começa em casa, no dia a dia, nas pequenas rotinas que construímos com nossos filhos.
Um olhar mais amplo para a saúde bucal
O que esse estudo nos ensina é que precisamos ampliar nossa visão sobre saúde bucal infantil. Não podemos mais tratar a boca como uma parte isolada do corpo, nem a criança como um ser isolado da sua família.
“É como aquela história do bolo de fubá da vovó“, compara o Dr. Carlos Mendes, odontopediatra com 25 anos de experiência no atendimento de crianças em Belo Horizonte. “Se faltar um ingrediente, por mais que você siga o resto da receita à risca, o resultado não será o mesmo. Na saúde bucal infantil, o bem-estar emocional dos pais é um ingrediente essencial que estávamos negligenciando.”
O que podemos fazer?
Os pesquisadores sugerem que os programas de saúde materno-infantil incluam componentes de apoio à saúde mental. Aqui no Brasil, onde o SUS oferece tanto atendimento odontológico quanto psicológico, poderíamos pensar em estratégias integradas.
Algumas sugestões práticas:
- Dentistas podem incluir perguntas sobre o bem-estar emocional dos pais durante as consultas;
- Profissionais da saúde mental podem orientar sobre a importância da saúde bucal infantil;
- Campanhas de prevenção de cáries podem abordar estratégias para manter rotinas mesmo em momentos emocionalmente desafiadores.
Um chamado à reflexão
Embora os autores do estudo reconheçam suas limitações – como a variabilidade entre os diferentes estudos analisados (com um índice estatístico I² de 71,9%) – esta pesquisa abre uma janela importante para entendermos melhor a complexidade dos fatores que influenciam a saúde bucal infantil.
Como país que ainda lutam contra altos índices de cárie infantil, precisamos estar abertos a incorporar esses novos conhecimentos em nossas estratégias de saúde pública e em nossa prática clínica diária.
A saúde bucal infantil não depende apenas da escova, do fio dental e do flúor. Ela está profundamente conectada ao ambiente familiar e ao bem-estar daqueles que cuidam das nossas crianças. E isso, meus amigos, é algo que não podemos mais ignorar.
Este artigo foi elaborado com base em estudos científicos recentes, mas não substitui a consulta a profissionais de saúde. Converse sempre com seu dentista e médico sobre suas condições específicas.
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Fonte: Maternal depression increases the risk of early childhood caries (ECC): a systematic review and meta-analysis