20/06/2025

Depressão materna e cárie infantil a conexão revelada

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Você sabia que a saúde mental de uma mãe pode influenciar diretamente a saúde bucal do seu filho? Pois é, meus caros leitores, uma descoberta recente está virando de cabeça para baixo tudo o que sabíamos sobre prevenção de cáries na primeira infância.

A descoberta que ninguém esperava

Uma nova revisão sistemática publicada no respeitado Journal of Clinical Pediatric Dentistry revelou algo surpreendente: mães que sofrem com depressão têm filhos com 40% mais chance de desenvolver cárie precoce na infância. Não é pouca coisa, não é mesmo?

Quando pensamos em prevenção de cáries infantis, geralmente focamos na escovação, no consumo de açúcar e nas visitas ao dentista. Raramente consideramos a saúde mental dos pais como fator determinante“, explica a Dra. Marina Soares, odontopediatra e pesquisadora da USP, que não participou do estudo, mas compartilhou sua opinião sobre os resultados.

Os números não mentem

A pesquisa, conduzida por cientistas chineses liderados por Wentao Bian, do Hospital Popular da Província de Shaanxi, analisou sete estudos envolvendo mais de 22 mil participantes. Os resultados são contundentes: quando a mãe sofre de depressão, a chance de a criança desenvolver cárie precoce aumenta significativamente.

Para quem gosta de dados precisos, o estudo encontrou uma razão de chances de 1,40 (com intervalo de confiança de 95% entre 1,09 e 1,80). Em linguagem mais simples: há uma associação clara e estatisticamente significativa entre a depressão materna e as cáries infantis.

Mas por que isso acontece?

Vamos imaginar o cenário: uma mãe lutando contra a depressão enfrenta desafios diários que muitos de nós não conseguimos compreender. O simples ato de levantar da cama pode exigir um esforço sobre-humano. Nesse contexto, manter uma rotina rigorosa de cuidados bucais para os pequenos vira um verdadeiro desafio.

A depressão pode comprometer:

  • A supervisão da escovação noturna, quando estamos todos cansados e queremos apenas ir para a cama;
  • O preparo de refeições equilibradas, cedendo mais facilmente a alimentos ultraprocessados e ricos em açúcar;
  • A percepção de sinais precoces de problemas dentários, como manchas brancas nos dentes;
  • A regularidade das visitas preventivas ao dentista.

Como bem sabemos na odontologia, a prevenção é sempre o melhor remédio. E a prevenção começa em casa, no dia a dia, nas pequenas rotinas que construímos com nossos filhos.

Um olhar mais amplo para a saúde bucal

O que esse estudo nos ensina é que precisamos ampliar nossa visão sobre saúde bucal infantil. Não podemos mais tratar a boca como uma parte isolada do corpo, nem a criança como um ser isolado da sua família.

É como aquela história do bolo de fubá da vovó“, compara o Dr. Carlos Mendes, odontopediatra com 25 anos de experiência no atendimento de crianças em Belo Horizonte. “Se faltar um ingrediente, por mais que você siga o resto da receita à risca, o resultado não será o mesmo. Na saúde bucal infantil, o bem-estar emocional dos pais é um ingrediente essencial que estávamos negligenciando.”

O que podemos fazer?

Os pesquisadores sugerem que os programas de saúde materno-infantil incluam componentes de apoio à saúde mental. Aqui no Brasil, onde o SUS oferece tanto atendimento odontológico quanto psicológico, poderíamos pensar em estratégias integradas.

Algumas sugestões práticas:

  • Dentistas podem incluir perguntas sobre o bem-estar emocional dos pais durante as consultas;
  • Profissionais da saúde mental podem orientar sobre a importância da saúde bucal infantil;
  • Campanhas de prevenção de cáries podem abordar estratégias para manter rotinas mesmo em momentos emocionalmente desafiadores.

Um chamado à reflexão

Embora os autores do estudo reconheçam suas limitações – como a variabilidade entre os diferentes estudos analisados (com um índice estatístico I² de 71,9%) – esta pesquisa abre uma janela importante para entendermos melhor a complexidade dos fatores que influenciam a saúde bucal infantil.

Como país que ainda lutam contra altos índices de cárie infantil, precisamos estar abertos a incorporar esses novos conhecimentos em nossas estratégias de saúde pública e em nossa prática clínica diária.

A saúde bucal infantil não depende apenas da escova, do fio dental e do flúor. Ela está profundamente conectada ao ambiente familiar e ao bem-estar daqueles que cuidam das nossas crianças. E isso, meus amigos, é algo que não podemos mais ignorar.

Este artigo foi elaborado com base em estudos científicos recentes, mas não substitui a consulta a profissionais de saúde. Converse sempre com seu dentista e médico sobre suas condições específicas.

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Fonte: Maternal depression increases the risk of early childhood caries (ECC): a systematic review and meta-analysis