Diabetes e periodontite: a conexão silenciosa que pode comprometer sua saúde

Imagine-se em uma consulta de rotina com seu dentista. Tudo parece dentro do esperado — uma limpeza, algumas orientações sobre o uso do fio dental.

No entanto, o dentista de repente faz uma pergunta que você não esperava: “Você tem diabetes?”.

À primeira vista, isso pode soar estranho. Mas, de repente, o dentista faz uma pergunta inesperada: “Você tem diabetes?”. A princípio, isso pode soar estranho. Afinal, o que a saúde bucal tem a ver com uma doença que, em nossa cabeça, está mais associada ao açúcar no sangue do que aos dentes?

A resposta, no entanto, é surpreendente. Pesquisas recentes mostram que a conexão entre diabetes e saúde bucal vai muito além do que se imagina. E o ponto de encontro entre essas duas condições é uma vilã silenciosa: a periodontite. Se você tem diabetes — especialmente do tipo 2 —, suas chances de desenvolver essa doença inflamatória nas gengivas aumentam drasticamente, especialmente se houver outras complicações diabéticas envolvidas, como danos nos vasos sanguíneos ou nos nervos.

E não para por aí. Se a periodontite não for tratada, ela pode causar algo que ninguém quer: a perda de dentes. E acredite, perder dentes não é só uma questão estética. Isso afeta funções essenciais, como mastigar e falar, além de ter um impacto significativo na autoestima. É como se a saúde bucal fosse a ponta do iceberg de problemas muito mais profundos, ligados diretamente à saúde geral de quem convive com diabetes.

Mas por que, afinal, essa relação existe? E o que os pesquisadores descobriram sobre a ligação entre complicações da diabetes e a saúde das suas gengivas? A resposta está em uma nova e importante pesquisa, que apresenta dados reveladores sobre como essas condições se entrelaçam — e como entender essa conexão pode ser a chave para melhorar tanto a saúde bucal quanto a qualidade de vida de milhões de pessoas.

Os danos causados pelo diabetes e o desenvolvimento da periodontite

Estudos anteriores sugerem que pessoas com complicações microvasculares, como retinopatia (danos aos vasos da retina) e neuropatia (danos aos nervos), têm maior probabilidade de desenvolver periodontite. Contudo, muitas dessas pesquisas foram limitadas por amostras pequenas e não consideraram fatores importantes, como condições socioeconômicas, tabagismo e duração da diabetes, que podem influenciar os resultados. Além disso, o impacto combinado dessas complicações e da dislipidemia (níveis desequilibrados de gordura no sangue) no desenvolvimento da doença gengival ainda não havia sido explorado.

Para preencher essa lacuna, Bitencourt e sua equipe, em colaboração com pesquisadores do Steno Diabetes Centre Aarhus e do National Dental Centre Singapore, analisaram dados de mais de 15 mil pessoas com diabetes tipo 2, participantes do estudo Health in Central Denmark. A amostra incluiu 15.922 pacientes com idade média de 63,7 anos, que responderam a questionários detalhados e passaram por exames laboratoriais.

Retinopatia diabética e o desenvolvimento da periodontite

Após ajustar os resultados para variáveis como nível socioeconômico, hábitos de vida (como tabagismo e atividade física) e condições de saúde, os pesquisadores encontraram uma associação clara entre complicações microvasculares e o desenvolvimento de periodontite moderada ou grave.

Pessoas com retinopatia diabética apresentaram 21% mais chances de desenvolver periodontite moderada ou grave em comparação com aqueles sem complicações da diabetes. No caso da neuropatia diabética, o risco aumentou para 36%. Quando ambos os problemas estavam presentes, a probabilidade de desenvolver uma doença gengival mais séria subia para 51%. A presença de dislipidemia agravava ainda mais esse risco.

A importância da abordagem multidisciplinar

Diante desses achados, os autores da pesquisa reforçam a importância de uma abordagem multidisciplinar no tratamento de pacientes com diabetes tipo 2. “Para os dentistas, isso significa estar atento ao fato de que pacientes com diabetes tipo 2 e periodontite moderada ou grave, especialmente aqueles com dislipidemia, podem ter um risco maior de complicações microvasculares, como neuropatia e retinopatia”, afirma Bitencourt. “Esses pacientes devem ser avaliados com maior atenção para identificar possíveis complicações da diabetes.”

Ao trabalharem em conjunto, dentistas e outros profissionais de saúde podem garantir que pacientes com diabetes tipo 2, sobretudo os mais vulneráveis a complicações, recebam um cuidado mais completo, melhorando tanto sua saúde bucal quanto geral.

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Fonte: Individuals with complications of diabetes are at higher risk of gum disease, Danish study finds

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