Cuidados da odontologia com pacientes oncológicos

Nos pacientes oncológicos , os cuidados com a saúde bucal são muito importantes.
Pacientes oncológicos têm maiores chances de desenvolver lesões dentárias e que tipo de tratamentos devem procurar no pré, pós e durante os tratamentos oncológicos.
A recomendação de fazer uma avaliação odontológica serve para todo paciente oncológico , não somente aqueles com tumores de cabeça e pescoço.

Um dos fatores a serem avaliados é a presença de algum foco de infecção, que pode ser uma doença periodontal ou cáries muito profundas. A consulta é de extrema importância, porque os pacientes que fazem uso de quimioterápicos ficam com o sistema imunológico mais debilitado, e a existência de uma doença periodontal, por exemplo, que o paciente nem sabia que tinha, poderá se agravar e resultar num grande problema, mas também, com leucemias e linfomas. Alguns dentes com mobilidade poderão ser removidos antes de iniciar o tratamento oncológico.

Por outro lado, quando se iniciam os tratamentos oncológicos podem ocorrer certas problemas orais

Mucosite oral

Frequentemente se manifesta na forma de feridas semelhantes a aftas e que podem ser bastante dolorosas para o paciente, afetando, em alguns casos, a capacidade de mastigação.

Uma das formas de prevenção da mucosite é a laserterapia de baixa intensidade. O laser é um bioestimulador que auxilia na redução do processo inflamatório, modula a dor e auxilia no processo de reparo do tecido lesado. É importante conversar com seu oncologista sobre essa possibilidade.

Xerostomia

Xerostomia é condição razoavelmente predominante, afetando 5.5%−46% da população adulta. A incidência do xerostomia aumenta com idade, com quase metade da queixa idosa da população de ter boca seca. Contudo, permanece obscura se há um relacionamento direto entre a idade avançada e a produção reduzida da saliva ou se este é devido ao número aumentado de medicações tomadas geralmente pelas pessoas idosas.

Papel da saliva

A produção apropriada da saliva é importante para o conforto do paciente e sua higiene dental. A saliva cobre a boca e os dentes com a umidade constante, assim fornecendo a lubrificação e a proteção à cavidade oral. A saliva contem diversas proteínas que funcionam na digestão, na atividade antibacteriana, e na manutenção do pH oral apropriado. A insuficiente produção da saliva pode afetar a mastigação, a absorção, o discurso, o gosto, e a higiene dental. A saliva é muito importante para os dentes por conta da proteção da deterioração dental pelo fato de limitar o crescimento das bactérias, neutralizar ácidos de alimento, e os ajuda a retirar partículas de alimento alojadas nos dentes.

Sintomas

Os sintomas do xerostomia podem incluir uma boca seca persistente e densamente ou a saliva mucoso carregado. Os dentistas podem reconhecer a insuficiente associação da saliva na boca durante exames dentais. Muitos sofredores de xerostomia relatam mudanças no gosto e na dificuldade de engolir o alimento quando o mastigam, especialmente alimentos secos tais como biscoitos ou produtos como o pão. A necessidade e o desejo de beber frequentemente a água se mostram aumentados. Alguns pacientes com xerostomia igualmente experimentam um burning ou uma sensação de formigamento na língua ou na boca.

A xerostomia pode ter efeitos severos na saúde dental; geralmente aumenta no número de cavidades dentais, de doenças gengivais, e de mau hálito. Os sofredores de Xerostomia que vestem dentaduras tipicamente têm o problema de mantê-las no lugar e queixam-se de dores oriundos do uso da dentadura.

Uma xerostomia não tratada pode conduzir às infecções bucais, infecções da glândula salivar, e língua com rachaduras devido à secura.
Consequentemente, a detecção precoce e o tratamento da xerostomia são importantes para a saúde e o bem estar do paciente.

Muitas vezes, o paciente em tratamento oncológico precisa tomar opiáceos e antidepressivos. Alguns ainda tomam outros medicamentos, porque possuem outras doenças associadas, como pressão alta, diabetes e doença renal. Por conta disso, é extremamente comum surgir um quadro de xerostomia.
O paciente com boca seca tem mais placas bacterianas, o que acumula mais agentes agressivos e produz mais toxinas, aumentando o risco da mucosite, referida anteriormente.

Cárie de radiação

Causada pelo efeito da radioterapia, provoca efeitos diretamente nos dentes, principalmente sobre os odontoblastos, diminuindo a capacidade de produção de dentina reacional. O esmalte também sofre alterações e torna-se mais vulnerável à cárie. Atua indiretamente aumentando a suscetibilidade de cárie por meio de diminuição ou até interrupção da salivação. Tais alterações propiciam o desenvolvimento desse tipo de cárie que ocorre principalmente no terço cervical, iniciando-se pela face vestibular e posteriormente pela lingual progredindo ao redor do dente, como uma lesão anelar, que pode levar à amputação da coroa.

Gengivite

Com o baixo número de plaquetas ele pode acontecer, inclusive, de forma espontânea. Mas também pode ser advindo de uma retenção maior da placa bacteriana causada pela higiene, ou falta dela. Consequência ou não de mucosite e xerostomia, por exemplo.

Periodontite

A perda dos dentes não costuma ser comum em pacientes em tratamento do câncer, porém pode acontecer caso os cuidados de higiene não sejam realizados corretamente ou não haja um histórico de controle periódico e visita regular ao dentista.

Perda do paladar

O tratamento causa alterações importantes no organismo, entre elas as que ocorrem nas papilas gustativas, fazendo com que o paciente não sinta os sabores de alguns alimentos.

Infecções oportunistas (bacterianas, viróticas ou fúngicas)

A baixa imunidade deixa o paciente bem susceptível, por isso todo cuidado é pouco quando o assunto são as infecções.

Osteorradionecrose

Sequela de ocorrência tardia, com incidência maior nos primeiros três anos pós-radioterapia. Pode ser provocada por traumas como exodontias, procedimentos invasivos e cirúrgicos, próteses mal adaptadas e infecções periodontais e periapicais por toda a região irradiada previamente, sendo a mandíbula o osso mais comumente envolvido. Provoca uma redução da atividade dos osteoblastos e alteração nos vasos sanguíneos, tornando o osso menos irrigado e, consequentemente, mais vulnerável a infecção e com menor capacidade de reparação. Acomete pacientes submetidos à radioterapia.

Prevenção e tratamento

Para tratar e amenizar os problemas bucais, é fundamental, antes de tudo, que durante todo o tratamento e até mesmo antes de começá-lo, o paciente tenha um acompanhamento odontológico. A higiene bucal não pode ser deixada de lado, mesmo que a região da boca esteja dolorida. Nesse momento é mais indicado o uso de escovas extra macias e bochechos com soluções antissépticas sem álcool.

Recomendações a serem seguidas durante o tratamento do câncer:

  • Escovar os dentes com pasta contendo flúor;
  • Passar fio dental suavemente;
  • Fazer gargarejos com bicarbonato de sódio;
  • Escolher alimentos que exijam pouca ou nenhuma mastigação;
  • Evitar alimentos ácidos, picantes, salgados e secos.

Mucosite oral

Para aliviar a mucosite oral, o paciente pode utilizar soluções isotônicas e anti-inflamatórios. O tratamento com laser de baixa potência também foi relatado como eficiente na diminuição da severidade e duração das mucosites em pacientes que foram irradiados ou submetidos ao tratamento quimioterápico. É importante fornecer também orientação quanto à dieta e manutenção da hidratação. Nos casos mais graves, considerar o uso de antimicrobianos tópicos e sistêmicos.

Xerostomia

Recomenda-se estimular o fluxo salivar por meio de gomas de mascar sem açúcar. O uso de saliva artificial contendo íons essenciais, componentes com mucina e pH entre 6 e 7, também pode ser sugerido. O uso de fluoretos (gel ou solução) e reposição de líquidos também. Quanto aos lábios, pode-se usar protetor labial à base de lanolina.

Cáries

O tratamento das lesões de cárie pode ser realizado por meio de ART (Atraumatic Restorative Treatment), ou seja, remoção de tecido cariado por meio de curetas e colocação de cimentos ionoméricos.

O amálgama é contraindicado como material restaurador, pois é fonte secundária de radiação quando o paciente é submetido à radioterapia em região de cabeça e pescoço.

Nos casos de lesões de cárie avançada, demonstrando possível comprometimento pulpar, o tratamento endodôntico é recomendado para dentes permanentes. Já para dentes decíduos recomendamos a exodontia dos elementos dentários envolvidos.

Gengivite

O sangramento nas gengivas também pode estar associado à placa bacteriana, que causa uma inflamação no local. Para evitá-lo, o profissional deve acompanhar com o paciente a forma correta de realizar a escovação e, se for necessário, remover essas placas através do tratamento periodontal.

Periodontite

Os casos de comprometimento periodontal, o tratamento de raspagem e alisamento radicular é indicado. Entretanto, dentes apresentando bolsa periodontal (≥ 6 mm) e/ou mobilidade excessiva podem ser extraídos pois, além de serem fontes infecciosas, podem ser fatores complicadores caso seja necessária a realização de exodontia após a radioterapia, em função do risco de osteorradionecrose. As pessoas que fazem radioterapia na região da cabeça e do pescoço ou que fizeram uso dos medicamentos do grupo de bifosfonatos (utilizados no combate a problemas ósseos), tem restrição à colocação de implantes.

Infecções oportunistas

Exigem todo o cuidado possível. Para tratá-las, são indicados medicamentos tópicos ou orais, que só devem ser utilizados com o acompanhamento médico e do dentista.

Uso de aparelhos ortodônticos

Deve ser suspenso durante o tratamento para evitar sangramentos e possíveis infecções. Apenas após dois anos de remissão pode ser feito o tratamento ortodôntico normalmente. Havendo presença de qualquer infecção, a antibioticoterapia deverá ser realizada. O uso de sialogogos sistêmicos também pode ser recomendado, como o cloridrato de prilocarpina, mas é importante avaliar suas contraindicações.

A prevenção é a grande arma para evitar quadros graves, muitas vezes incuráveis e até incontroláveis, do ponto de vista local e sistêmico, que levam a um forte impacto na qualidade de vida do paciente comprometendo sua saúde, deve ser realizada uma avaliação completa antes do início da radioterapia, verificando as condições dos dentes e o prognóstico do paciente.

A correta compreensão desses sinais e sua correlação com sintomas e drogas ou radiação utilizadas nos tratamentos oncológicos tornam esses tipos de manifestações mais previsíveis, o que facilita a prevenção e o tratamento dessas condições, oferecendo uma melhor qualidade de vida a esses pacientes, sendo de grande importância a integração da odontologia na equipe médica de oncologia.

Fontes: News Medical Life Sciences , Dental Cremer , Revista Onco

Sugestões de leitura

Inovação na odontologia: resinas de última geração

Hoje, vamos tratar sobre uma inovação que está mexendo com o segmento da odontologia: as resinas de última geração. Essas resinas estão revolucionando...

Probióticos: a nova fronteira da saúde bucal

Imagine a sensação de sair do consultório do dentista com um sorriso renovado, mas também com uma nova preocupação em mente: a prótese...

Os vilões invisíveis da boca: como bactérias podem influenciar o risco de câncer

O microuniverso que habita a sua boca é como um campo de batalha em um combate diário. Bilhões de bactérias travam uma guerra...

O impacto das bebidas açucaradas na saúde e longevidade

Refrigerantes e outras bebidas açucaradas podem contribuir para o ganho de peso e estão associados a um aumento no risco de desenvolvimento de...

Gerodontologia: cuidado bucal Integral para idosos

Imagine um futuro não tão distante, onde a população idosa do Brasil triplicou, e um em cada quatro brasileiros tem mais de 65...

Diabetes e periodontite: a conexão silenciosa que pode comprometer sua saúde

Imagine-se em uma consulta de rotina com seu dentista. Tudo parece dentro do esperado — uma limpeza, algumas orientações sobre o uso do...