Células-tronco do dente de leite ganham cada vez mais importância

Muito além das células-tronco do cordão umbilical, que são usadas para tratamentos de doenças sanguíneas, cientistas do mundo todo estão estudando as possibilidades terapêuticas das células-tronco da polpa do dente decíduo, chamadas de mesenquimais. Agora, as descobertas começam a sair dos centros de pesquisa das universidades para serem compartilhadas com a área consultório: ou seja, os médicos.

“Já está mais do que comprovado que os acidentes são os principais responsáveis pelo óbito e internações de crianças acima de 5 anos. Saber que as células-tronco da polpa do dente de leite têm a capacidade de se transformar em ossos, pele, órgãos, cartilagem, gordura e neurônios dão muita esperança para a pediatria. Afinal, no futuro essas células poderão nos auxiliar a tratar esses pacientes”, disse dr. Tadeu Fernando Fernandes. “É importante lembrar que a troca de dentição acontece entre os 6 e os 12 anos. Não dá para perder este prazo e a oportunidade de garantir a saúde de quem hoje é criança, quando for adulto, guardando um órgão que naturalmente será perdido. As outras fontes de células-tronco mesenquimais requerem técnicas mais invasivas, como a da retirada do material da medula óssea”, explicou o especialista ao falar com o grupo de pediatras, em evento realizado pela R-Crio —Centro de Tecnologia Celular, especializado em armazenar a células-tronco da polpa dental —, em Campinas (SP).

Segundo levantamento do Datasus (sistema de dados do Ministério da Saúde), analisado pela ONG Criança Segura, os principais acidentes que levam as crianças a serem internadas são as quedas (47%), seguidos pelas queimaduras (16%), e mordidas de animais (12%). Na faixa etária dos 5 aos 9 anos, os acidentes de trânsito — incluindo atropelamentos — geralmente são fatais e correspondem a 48% dos óbitos.

Além de poder auxiliar na recuperação de pacientes vítimas de acidentes, as células-tronco da polpa do dente de leite, por serem de origem mesenquimal, quando estimuladas, são fáceis de se multiplicar em milhões, em um curto período de tempo, além de serem versáteis. Estas células também podem tratar doenças congênitas e degenerativas, como diabetes tipo 1, Alzheimer, cirrose e doenças cardíacas.

Presente no evento, o dr. José Martins Filho, presidente da Academia Brasileira de Pediatria se interessou pelo tema, e agora no início de dezembro, foi conferir como é feito o processo de preservação das células-tronco, além de se informar sobre os estudos clínicos já existentes. “É o futuro da medicina. Durante dezenas de anos, as células-tronco podem ficar armazenadas em tanques de nitrogênio líquido a – 196º. É bom saber que as famílias pensem na necessidade de preservar as células-tronco mesenquimais (do dentinho) para futuro uso terapêutico, não só na infância, mas por toda a vida”, afirmou o pediatra.

Genética em avanço

Sobre os avanços da genética, durante o encontro, o professor doutor Walter Pinto Júnior apresentou aos pediatras a técnica de Crispr, que tem se mostrado capaz de substituir o DNA de genes defeituosos por um novo material genético. O titular da Unicamp em Genética Médica explicou que a técnica já provou dar resultados em testes com roedores portadores de retinite pigmentosa, enfermidade que provoca a cegueira, na espécie humana, e afeta uma em cada quatro mil pessoas. Pesquisadores do Instituto Salk, nos Estados Unidos, injetaram nos animais um vírus que carregava um conjunto de instruções da edição genética com genes saudáveis, que foram capazes de curar as células doentes.

“Ao corrigirmos um defeito genético com precisão nessas células-tronco, poderemos multiplicá-las “curadas” milhares de vezes e transformá-las em células do tecido que as necessitam para a atividade do gene “curado”, sejam elas do tecido nervoso, muscular, epitelial etc. Como uma grande parte das doenças genéticas se manifesta na infância ou após a puberdade, as células-tronco da polpa dos dentes de leite serão ideais para serem usadas por terem sido preservadas nesse estado totipotencial (capacidade de se diferenciar nos tecidos que formam o corpo humano), sendo que não vão desencadear qualquer reação imunológica de incompatibilidade por serem usadas no próprio indivíduo”, explicou Walter Pinto Júnior.

Em adição, tanto o pediatra Tadeu Fernando Fernandes, como o diretor de operações da R-Crio, Walker Jeveaux, esclareceram aos profissionais de saúde questões importantes sobre a guarda das células-tronco e sua utilização. No momento, o que está autorizado pela Anvisa é o armazenamento destas células e isso é de extrema importância já que são elas a matéria-prima para um leque enorme de possibilidades de tratamentos, no futuro.

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