Cimento odontológico: tipos e usos

Os cimentos odontológicos são biomateriais formados pela mistura de diferentes componentes, geralmente em pó (base) e líquido (ácido), que em estado fluido são aplicados entre duas superfícies até adquirirem suficiente firmeza. Portanto, devem cumprir dois objetivos:

  • Manter a restauração em posição durante um período de tempo indefinido.
  • Atuar como uma barreira que evita a filtração entre o material que foi cimentado e a peça dentária.

No processo de cimentação ocorre atrito entre o dente e a restauração. Para que seja adequado, são necessários certos requisitos, como a resistência à solubilidade e a espessura mínima da película, de modo que a dissolução por ação da saliva e a exposição ao meio bucal sejam mínimas.

O trabalho de cimentação tem de ser muito preciso, uma vez que qualquer imperfeição da selagem permite a entrada de bactérias, deformações das restaurações nos processos de mastigação e o início de cáries nos pilares odontológicos.

Em função da capacidade de aderência, os cimentos podem ser classificados em dois grupos:

  • Cimentos odontológicos convencionais ou não adesivos: Têm uma retenção mecânica e não são capazes de interagir intimamente com os pilares dentários. Além disso, alguns deles, como o cimento de fosfato de zinco e o cimento de policarboxilato, apresentam alta solubilidade, facilitando assim a microfiltração.
  • Cimentos odontológicos adesivos: Consolidam-se de forma mais eficaz nas irregularidades das superfícies e dos tecidos dentários, melhorando a sua capacidade de retenção e selagem marginal.
  • Cimentos odontológicos segundo a sua aplicação na clínica

Em cada uma das áreas da odontologia, o cimento é utilizado para determinados procedimentos.

Poderiam ser classificados da seguinte forma:

  • Cirurgia oral: apósitos para feridas e contribuição para o processo de cicatrização.
  • Reabilitação oral: cimentações de próteses fixas .
  • Endodontia: selagens de canais.
  • Odontologia preventiva: selagens de fossas e fissuras.
  • Odontologia conservadora: obturação provisória.
  • Ortodontia: cimentação de aparelhos de ortodontia nas peças dentárias.

Tipos de cimentos odontológicos

Cimentos odontológicos segundo a sua composição química

Como citado anteriormente, a maior parte dos cimentos é fornecida em dois componentes: pó e líquido. Em geral, a reação entre os componentes é uma reação ácido-base, após a qual adquirem a resistência necessária para a sua utilização como base, como protetores pulpares, como restauração permanente, temporária ou como agente de cimentação.

Cimento odontológico de fosfato de zinco

A sua utilização foi regulamentado em 1935 e, desde então, é um dos mais difundidos no âmbito da odontologia.

Entre os seus componentes, encontramos:

Pó: óxido de zinco, óxido de magnésio, fluoretos, óxido de bismuto, sílica.

Líquido: ácido ortofosfórico, água.

O ácido ortofosfórico, que tem um pH entre 2 e 4, comporta-se como um irritante pulpar, por isso é aconselhável usar um isolante como o verniz cavitário sobre as restaurações. Por outro lado, os sais de óxido de alumínio e óxido de zinco atuam como tampões, reduzindo o efeito produzido pelo ácido ortofosfórico e retardando a reação do cimento.

Dado que a reação entre o pó e o líquido é exotérmica, o método mais eficaz para controlar o tempo de trabalho e de presa é normalmente a temperatura da placa de mistura.

Entre as suas vantagens, verificamos que é fácil de manusear, é econômico e o excesso de material é removido com facilidade. No entanto, esse tipo de cimento não é muito estético e dá origem a mais casos de microfiltração.

Cimento odontológico de policarboxilato de zinco

Também denominado cimento de poliacrilato de zinco, é o primeiro sistema de cimentação resultante do esforço para conseguir um agente de cimento adesivo que se unisse com solidez à estrutura dentária.

É formado por:

Pó: óxido de zinco, óxido de magnésio.

Líquido: ácido poliacrílico.

O cimento de policarboxilato tem maior força de tração do que o óxido de zinco, mas uma menor força de compressão. O ácido poliacrílico apresenta um elevado peso molecular que ajuda a prevenir a sensibilidade pulpar.

Não é muito apropriado para cimentações, pois não tem capacidade para suportar o estresse oclusal devido à sua baixa resistência à compressão. Tal como ocorre com o cimento de fosfato de zinco, apresenta uma fraca selagem marginal relacionada com a espessura da película, que excede 25 mícrons e acaba por sofrer uma desadaptação ao seu ambiente.

Cimento odontológico de ionômero de vidro

A princípio, esse tipo de cimento se destinava a restaurações estéticas de dentes anteriores. No entanto, quando se verificou a sua adesão à estrutura dentária e a sua eficácia para a prevenção de cáries, estendeu-se a outras necessidades como agente de cimentação, selante de sulcos e fissuras, recobrimentos, reconstrução de cotos ou restaurações imediatas.

Os seus componentes sofreram muitas modificações ao longo do tempo. Atualmente, é composto por:

Pó: sílica, alumina, fluoretos.

Líquido: ácido poliacrílico, ácido itacónico, ácido tartárico.

Quando estes componentes são combinados numa pasta, o ácido condiciona as superfícies das partículas de vidro. Este é o motivo pelo qual se libertam íons de cálcio, sódio, alumínio e flúor no meio aquoso.

Algumas das vantagens deste tipo de cimento dentário são: a libertação de flúor, que favorece uma atividade bacteriostática; uma maior resistência à compressão do que o fosfato de zinco, sendo a resistência à tração similar; é fácil de manusear e de tipo translúcido. Por outro lado, o elevado peso molecular do seu componente ácido tem um pH que, uma vez iniciada a mistura, aumentará imediatamente, impedindo a toxicidade pulpar. Sendo muito solúvel em meio úmido, torna-se necessário um isolamento absoluto.

Cimento odontológico de resina

Os cimentos de resina são feitos à base de polímeros concebidos com o objetivo de se unirem à estrutura dentária. Apesar de terem um uso geral, são especificamente utilizados para a cimentação de coroas e pontes ou brackets de ortodontia, entre outros.

É formado pelos seguintes componentes:

Monômero de metacrilato. É utilizado como base de resina.

Ácidos monoméricos funcionais. Desmineralizam e facilitam a adesão à superfície do dente.

Composto de vidro fluoroaluminosilicato de bário, vidro de estrôncio aluminosilicato cálcico, quartzo, sílica coloidal, fluoreto de itérbio e outros enchimentos de vidro. A sua dissolução parcial equilibra a acidez da resina e liberta íons de sódio, cálcio, silicato e flúor, fazendo parte da presa.

Este tipo de cimento apresenta uma resistência compressiva 50% maior que o fosfato de zinco e baixa solubilidade nos fluidos orais; uma dupla resistência à tração em comparação com os cimentos de ionômeros de vidro e fosfato de zinco, além de oferecer estabilidade ante uma possível alteração na pressão ambiental; e tem uma gama de cores que o torna um material adequado para a cavidade oral.

Fonte: Dentaleader

Sugestões de leitura

Como tratar a periodontite em seu estágio mais grave?

A periodontite é uma doença que afeta os tecidos de suporte dos dentes classificada em quatro estágios de gravidade, sendo o estágio IV...

Inovação na odontologia: resinas de última geração

Hoje, vamos tratar sobre uma inovação que está mexendo com o segmento da odontologia: as resinas de última geração. Essas resinas estão revolucionando...

Probióticos: a nova fronteira da saúde bucal

Imagine a sensação de sair do consultório do dentista com um sorriso renovado, mas também com uma nova preocupação em mente: a prótese...

Os vilões invisíveis da boca: como bactérias podem influenciar o risco de câncer

O microuniverso que habita a sua boca é como um campo de batalha em um combate diário. Bilhões de bactérias travam uma guerra...

O impacto das bebidas açucaradas na saúde e longevidade

Refrigerantes e outras bebidas açucaradas podem contribuir para o ganho de peso e estão associados a um aumento no risco de desenvolvimento de...

Gerodontologia: cuidado bucal Integral para idosos

Imagine um futuro não tão distante, onde a população idosa do Brasil triplicou, e um em cada quatro brasileiros tem mais de 65...