cadeira em um consultório odontológico

Obesidade infantil: você sabia que o dentista pode ajudar?

O que pouca gente sabe é que aquela ida ao dentista pode fazer muito mais do que apenas cuidar dos dentinhos do seu filho. Um profissional que cuida da saúde bucal também pode ser um aliado importante na luta contra um dos maiores problemas de saúde pública da atualidade: a obesidade infantil.

A conexão surpreendente entre boca e peso

Muitos odontopediatras têm presenciado diariamente o sofrimento que as crianças enfrentam devido à saúde bucal comprometida. A cárie — resultado da ação de bactérias que transformam açúcares em ácidos corrosivos — continua sendo a principal causa de internação hospitalar entre crianças de 5 a 9 anos em diversos países. E o que muitos pais não sabem é que esse problema está diretamente ligado ao excesso de peso.

Não é coincidência: os mesmos alimentos ultraprocessados e bebidas açucaradas que atacam o esmalte dos dentes também são responsáveis pelo aumento alarmante da obesidade infantil. É como se a boca fosse o “portal de entrada” que sinaliza desequilíbrios que afetam o corpo inteiro.

Números que acendem o alerta

Os dados são realmente preocupantes. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 43% das crianças ao redor do mundo apresentam cáries, enquanto 20% das crianças entre 5 e 19 anos estão acima do peso ideal ou já vivem com obesidade.

No Brasil, a situação não é diferente. Conforme o Ministério da Saúde, cerca de um terço das crianças brasileiras de 5 a 9 anos apresentam excesso de peso, e a prevalência de cárie ainda atinge mais de 50% das crianças na mesma faixa etária. Não é à toa que especialistas chamam essa relação de “epidemia de dupla face”.

Muito além da estética: uma questão de saúde integral

Quando pensamos em obesidade infantil, muitas vezes nos vem à mente apenas a questão estética ou de bullying. Mas a verdade é muito mais complexa e preocupante. Uma criança com sobrepeso tem risco aumentado de desenvolver diabetes tipo 2, pressão alta, problemas cardíacos e até mesmo doenças no fígado ainda na infância.

Da mesma forma, a saúde bucal comprometida não significa apenas dentes manchados ou dor ocasional. A inflamação crônica das gengivas, por exemplo, tem ligação direta com o diabetes — uma condição que, infelizmente, vem crescendo de forma alarmante entre as crianças brasileiras. É um círculo vicioso onde uma doença agrava a outra.

O consultório odontológico como espaço de transformação

Pense no seguinte cenário: enquanto muitas famílias levam seus filhos ao dentista pelo menos uma vez por ano, a consulta com nutricionistas ou especialistas em obesidade infantil ainda é vista como algo “opcional” ou até mesmo um “luxo“. O dentista se torna, assim, um profissional estrategicamente posicionado para identificar problemas e iniciar intervenções precoces.

Muitos odontopediatras em sua prática clínica, têm adotado uma abordagem integrada: além de examinar dentes e gengivas, conversam com os pais sobre hábitos alimentares de forma natural e acolhedora. Muitas vezes, ao explicar como determinados alimentos prejudicam os dentes, acabam abrindo espaço para uma conversa mais ampla sobre nutrição e saúde.

Quando mostro aos pais como o refrigerante dissolve o esmalte dos dentes em um experimento simples no consultório, vejo o olhar de espanto. Naquele momento, entender o impacto daquela bebida na saúde bucal do filho também desperta a consciência sobre o seu efeito no corpo como um todo“, compartilha a Dra. Mariana Santos, odontopediatra em São Paulo.

Como funciona na prática?

Estudos recentes mostram que a inclusão de medições de peso e altura durante as consultas odontológicas é bem aceita pela maioria das famílias. Em países como Reino Unido e Estados Unidos, essa prática já está sendo implementada com sucesso.

O processo é simples:

  1. Durante a consulta de rotina, além da avaliação bucal, a criança tem seu peso e altura medidos;
  2. O dentista ou auxiliar calcula o IMC (Índice de Massa Corporal);
  3. Se houver indicação de sobrepeso ou obesidade, uma conversa sensível é iniciada com os pais;
  4. A família recebe orientações básicas sobre alimentação saudável, com foco especial na redução de açúcares;
  5. Quando necessário, um encaminhamento é feito para programas de apoio à saúde e nutrição.

Não se trata de transformar o dentista em nutricionista, mas de aproveitar cada oportunidade para promover saúde de forma integral“, explica o Dr. Carlos Mendes, presidente da Associação Brasileira de Odontopediatria. “Estamos falando do princípio fundamental da saúde pública: fazer com que cada contato conte.”

Desafios e resistências

É claro que essa abordagem enfrenta desafios. Muitos dentistas relatam receio de abordar um tema tão delicado quanto o peso com as famílias. Há também a preocupação com o tempo de consulta e a falta de treinamento específico.

No entanto, experiências internacionais mostram que, quando conduzida com sensibilidade, essa intervenção é bem recebida. Em uma pesquisa recente, 70% dos pais afirmaram que se sentiriam confortáveis se o dentista de seus filhos abordasse questões de peso e nutrição durante a consulta.

A chave está na abordagem. Não falamos de estética ou utilizamos termos como ‘gordinho’. Focamos em saúde e bem-estar, explicando como os mesmos hábitos que provocam cáries podem afetar todo o organismo“, esclarece a Dra. Luiza Ferreira, que implementou um programa piloto em sua clínica no Rio de Janeiro.

Um problema de desigualdade social

Tanto a obesidade infantil quanto a cárie dentária revelam uma face cruel da desigualdade social. Crianças de famílias em situação de vulnerabilidade econômica têm até três vezes mais chances de desenvolver problemas bucais e excesso de peso.

O acesso a alimentos saudáveis, informação nutricional adequada e cuidados preventivos de saúde ainda são um privilégio no Brasil. Enquanto isso, alimentos ultraprocessados, bebidas açucaradas e lanches rápidos costumam ser mais baratos e acessíveis.

O futuro dessa integração no Brasil

O Sistema Único de Saúde (SUS) já trabalha com o conceito de atenção integral à saúde, mas a implementação prática dessa integração entre odontologia e nutrição continua em fase inicial no Brasil. Experiências pioneiras em Unidades Básicas de Saúde de cidades como Curitiba e Florianópolis mostram resultados promissores.

Estamos testemunhando uma mudança de paradigma. O antigo modelo fragmentado de atendimento à saúde está dando lugar a uma visão mais holística, onde todos os profissionais compartilham responsabilidades no cuidado integral do paciente“, avalia a Dra. Patrícia Costa, coordenadora de Saúde Bucal do Ministério da Saúde.

O que você pode fazer como pai ou mãe?

Não espere que seu dentista tome a iniciativa. Na próxima consulta do seu filho, pergunte sobre a relação entre alimentação, saúde bucal e peso. Questione como a redução de açúcares pode beneficiar não apenas os dentes, mas todo o organismo da criança.

Lembre-se: pequenas mudanças nos hábitos alimentares podem trazer grandes resultados. Substituir refrigerantes por água, limitar doces e guloseimas a ocasiões especiais e envolver as crianças no preparo de refeições saudáveis são ações simples que podem começar hoje mesmo.

A saúde começa pela boca — não apenas como porta de entrada dos alimentos, mas também como primeiro ponto de contato com muitos profissionais de saúde. Aproveitar essa oportunidade pode fazer toda a diferença na vida e no futuro do seu filho.


Este artigo foi elaborado com base em estudos científicos recentes, mas não substitui a consulta a profissionais de saúde. Converse sempre com seu dentista e médico sobre suas condições específicas.

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Este artigo foi desenvolvido a partir de estudos atuais que exploram a integração entre a odontologia e a prevenção da obesidade infantil, com base em dados recentes da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde do Brasil.

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