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    Periodontite – nova abordagem de tratamento

    Avançam, nos laboratórios da USP em Ribeirão Preto, pesquisas para controle de uma doença comum, mas grave: a periodontite. Enquanto uma equipe da Faculdade de Odontologia (Forp) detém a perda óssea causada pela doença usando um imunossupressor já conhecido do mercado farmacêutico brasileiro, uma outra, com pesquisadores da Forp e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCFRP) , desenvolve terapias que controlam a inflamação e sangramento da gengiva.

    Problema grave de saúde

    Ainda incurável e de difícil controle, a doença periodontal é um processo inflamatório que ataca as gengivas (tecidos de proteção) e, depois, os tecidos de sustentação dos dentes (osso alveolar, ligamento periodontal e cemento). A evolução do quadro leva à perda dental e é a principal causa da falta de dentes na população adulta e idosa dos Estados Unidos (75% dos dentes perdidos).

    Higiene dental e algo mais

    Essa realidade explica os investimentos em pesquisa para o controle de um mal que, em geral, é causado pela falta ou deficiência de higiene bucal. O ideal, segundo Vinicius Pedrazzi, professor da Forp, é manter uso regular de fio/fita dental, escovação rotineira com escova de cerdas macias e um creme dental equilibrado. Mas, somados à higiene, “fatores genéticos; doenças sistêmicas, como o diabetes; maus hábitos, como o tabagismo e o alcoolismo, e o uso de drogas ilícitas, como o crack, também contribuem para a doença periodontal”.

    Os principais sintomas da periodontite são: mau hálito, gengivas com aspecto vermelho vivo ou arroxeado, brilhante, que sangram com facilidade, especialmente durante a escovação, sensíveis ao toque, inchadas e com mobilidade dental.

    Na forma de gel ou filme, fórmulas inibem a doença

    Pedrazzi e seu colega Osvaldo de Freitas, da FCFRP, lideram um grupo de pesquisadores que associaram dois medicamentos já conhecidos no mercado, o metronidazol e o benzoato de metronidazol. Desenvolveram dois diferentes produtos – gel e filme – e os testaram em grupos de pacientes portadores de doença periodontal.

    As duas fórmulas se mostraram mais eficientes que o tratamento tradicional, que consiste apenas de raspagem e alisamento radicular (base dos dentes). Mas o uso do filme aumentou o tempo sem o sangramento nas gengivas. “As duas formas farmacêuticas trouxeram resultados favoráveis, mas o da preparação em filme foi ainda mais significativo, já que evitou o sangramento gengival por até seis meses, contra os três meses do gel”, adianta Pedrazzi.

    No estudo, foram tratados três grupos de pacientes com doença periodontal. Um, de forma convencional; outro, com o gel composto de metronidazol associado ao benzoato de metronidazol (menos solúvel); e, por último, com um filme, mais rígido e menos plástico, também com o composto associado.

    Sem efeitos sistêmicos

    A fórmula em gel se apresenta na forma líquida quando armazenada em geladeira. Ao ser aplicada com seringa especial “dentro da bolsa periodontal e em contato com o fluido gengival, em temperatura aproximada de 38ºC, o líquido geleifica (adquire corpo e forma do defeito ósseo dentro da bolsa) e vai sendo bioerodido, ou seja, vai se desfazendo a partir de atividades degradadoras intrabolsa periodontal e dos movimentos mastigatórios, por exemplo. Já o filme, com uma consistência mais rígida e espessura bem diminuta, é recortável para adaptação dentro da bolsa, onde permanece por semanas, até meses, até ser totalmente bioerodido ou removido clinicamente pelo profissional”, conta o professor.

    Para as terapias, os pesquisadores utilizaram avançadas tecnologias farmacêuticas que possibilitaram a introdução de compostos químicos intrabolsa periodontal, com liberação modificada de metronidazol e benzoato de metronidazol apenas no local de aplicação. Lembra Pedrazzi que “o objetivo do produto é a liberação no local, sem efeitos sistêmicos e sem depender da cooperação do paciente para atingir o efeito pretendido”, adianta.

    As fórmulas foram desenvolvidas no Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento Farmacotécnico (LPDF) da FCFRP. Também participaram do estudo os pesquisadores Maria Paula Peixoto, Maíra Peres Ferreira, Paulo Linares Calefi e Mônica Danielle Ribeiro Bastos.

    Controle do sistema imune e da perda óssea

    Droga disponível no mercado para tratar artrite reumatoide, o tocilizumabe mostrou-se eficiente para diminuir a perda óssea, principal manifestação da doença periodontal. O remédio atua no sistema imunológico, bloqueando a ação de uma proteína receptora da interleucina 6 (IL6) que é “um dos principais mediadores inflamatórios relacionados à perda óssea periodontal”, comenta Gustavo Apolinário Vieira, pesquisador responsável pelo estudo.

    Vieira integra grupo de pesquisa da Forp liderado pelo professor Mario Taba Junior que busca novas formas diagnósticas e terapêuticas para a doença. Nesse trabalho, o objetivo foi testar os efeitos imunoterápicos do tocilizumabe sobre a doença periodontal, já que estudos recentes identificam o sistema imunológico do próprio paciente como responsável por 85% dos danos causados pela periodontite.

    O tocilizumabe, conta Vieira, é utilizado atualmente com ótimos resultados na artrite reumatoide e na artrite idiopática juvenil, e que esse é o primeiro estudo que comprova sua efetividade no tratamento da doença periodontal. Mas são resultados ainda experimentais. Os pesquisadores trataram ratos de laboratório com a substância e conseguiram relacionar ao tratamento a recuperação dos animais em diferentes exames.

    Perspectivas

    Somando os bons resultados obtidos ao fato de tratar-se de um imunossupressor já conhecido, o pesquisador acredita que num futuro próximo a droga possa “ser utilizada juntamente com a terapia básica periodontal, favorecendo os pacientes”.

    Os resultados positivos do uso do imunossupressor como coadjuvante no tratamento da doença já estão sendo reconhecidos pela comunidade científica. Uma das pesquisadoras do grupo, a graduanda Ana Carolina Aparecida Rivas, recebeu o prêmio de Melhor Trabalho Científico na Categoria Estudantil ao apresentar o estudo durante o sétimo Congresso da Região Sul-Americana da Associação Internacional de Pesquisa Odontológica, no início de setembro, em Montevidéu, Uruguai.

    A pesquisa é parte do projeto de pós-doutorado de Vieira no laboratório do professor Taba Junior, do Departamento de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial e Periodontia da Forp.

    Fonte: Jornal da USP

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